Lembranças de uma noite

Você lembra aquela noite?
Umas nuvens cobriam as estrelas,
Fazendo com que a lua espiasse
Curiosa e desconfiada.
O vento sussurrava, trazendo um cheiro de mar,
E as ondas murmuravam roucamente
Assim como gargantas explodindo em desejo.
No chão abandonados e esquecidos
O cigarro, as roupas, um pouco de nós.
Na cama nossos corpos abraçados,
Era puro instinto, num cio de promessas,
E as promessas cumpriram-se noite afora
Em mãos, bocas, pernas e ventres.
Tocando-se, movendo, mordendo
Saciando e sendo saciados,
Sussurrando, gemendo, quase gritando.
Corpos nus, lençóis amassados
Numa excitação animal.
Línguas duelando como espadas vivas,
Encontrando-se, recuando.
Os seios nas mãos, na boca,
Os dedos traçando caminhos, enlouquecendo
Eletrizando, abrindo, afagando.
Pernas roçando em mudo convite,
Depois entrelaçadas como bichos em briga.
Pelos emaranhados, peles queimando
Num gozo crescente, incontrolável.
E pela madrugada, seguimos nos tocando,
Parando e recomeçando num louco frenesi,
Gozando, suando, vivendo
Numa necessidade infinita de amar, de se amar,
Numa fome insaciável de sexo.
Ficamos juntos de todas as maneiras,
Você me possuiu sem me possuir
Eu provei de você e você me invadiu,
E gememos a uma só voz na multiplicidade
Do prazer máximo que nos povoou, molhou e prostrou.
Quando o sol nasceu, dormíamos
Cansados, satisfeitos, abraçados
Como amantes em trégua.

Jorge Rodrigues